Ainda alguém lê blogues?
Não sei, nem tão pouco me interessa. Acontece que me apeteceu escrever.
Ontem li algures que toda a compulsão esconde um imenso vazio. Eu tenho que admitir, ainda que seja só perante mim, que tenho compulsão por comida. (E obviamente não é apenas perante mim que o admito, visto que estou a escrevê-lo aqui.) Não preciso de ter fome para querer comer, e normalmente coisas não assim tão saudáveis.
E depois, tenho algum vazio emocional? Sim, tenho, Quem não? Contudo sinto-o mais desperto, muito mais, depois da treta lixada dos confinamentos. No primeiro estava em casa com a minha mãe, tinha ela 83 anos. Nessa altura ela teve um surto demencial de que nunca mais recuperou. E as minhas bases foram ruindo. Eu não tinha ideia do que era a demência antes de conviver de perto com ela. Mexe com tudo, não apenas com o raciocínio ou a memória. No caso da minha mãe, ela tinha alucinações, não dormia, falava alto, dia e noite, com os seus amigos e familiares que haviam morrido há décadas, nenhum medicamento a fazia descansar. Eu passei a ser, na cabeça dela, uma das suas principais inimigas, bêbeda e leviana. Tornou-se agressiva,
Acabou por ir para o lar, e fiquei sozinha em casa. Veio o segundo confinamento. Duríssimo. Apesar de ter larga experiência de viver sozinha, e até me dava bem com isso, nunca antes me tinha sentido tão só. Manhãs, tardes e noites sem ter ninguém por companhia, ninguém, ninguém para escutar, ninguém que me escutasse... Vieram vindo os temores e fragilidades antigos, que eu julgava ter sepultado. Mais tarde, arranjei emprego e voltei a rotinas mais saudáveis. Melhorei. Mas ficaram abertas feridas que vou ainda tratando a betadine e compressas várias.
Porque raio me apeteceu escrever um texto tão pessoal? Vá-se lá saber! Mas como não é proibido, e já que aqui está, aqui fica.