segunda-feira, abril 11, 2011

Das fotografias do antigamente, das tralhas inúteis e da vida.

As casas onde escolho viver têm todas uma grande tendência para a desarrumação, que eu combato de tempos a tempos. Hoje foi tempo. É tempo. As tralhas que eu acumulo, meu Deus! Coisas de que me esqueço em recantos insuspeitos, em esconderijos com que a minha casa me surpreende. Coisas que sou obrigada a concluir que não me fazem falta nenhuma, porquanto me esqueço delas durante longos períodos.
Hoje encontrei coisas antigas cheia de pó - o pó tem um certo charme, porque confere aos objectos uma aura de passado remoto que nos convida à nostalgia, e a nostalgia é poética. E fotografias. Muitas fotografias dos tempos em que não havia máquinas digitais. E cartas de amigos, e outras de pessoas que já tenho que me esforçar para saber quem foram.
Às vezes imagino que no final da minha vida Deus me mostrará, qual Teresa Guilherme no Big Brother, as cenas da minha vida, e talvez até eu conclua que nem estive assim tão mal, que o encanto das histórias dos filmes é uma questão de banda sonora. As fotografias antigas remetem-me para esse show futuro dos meus delírios. E por isso de certa forma concluo que arrumar a casa tem a sua poesia.

Enquanto arrumava a casa, abri a porta para deixar entrar o sol. Passou o vizinho do lado que se meteu com as gatas e esteve um pouco a conversar comigo. Perguntei-lhe pela esposa, que está internada em Coimbra. Nos cuidados paliativos, disse ele.
E fico a pensar na p***a da vida, no sofrimento e no fim, e sobre isto calo-me, porque não me ocorre nada de inteligente.

4 comentários:

Anna^ disse...

Quanto mais te conheço, mais gosto de ti :)

Dulce disse...

Que doce que tu és, Anna^! E o sentimento é recíproco. :))

Paula Sofia Luz disse...

faz tão bem à alma essa libertação, Dulce. Fiz o mesmo vai para um mês. bj

Vilma disse...

Também gosto de pensar isso: que Deus vais nos mostrar cada momento da nossa vida, o impacto positivo que causamos noutros, coisas assim. ele não deixa o pó acumular-se como nós, ainda que tenha o tal ar nostalgico! :))
É bom recordar.. gosto das arrumações porque me trazem à memória coisas boas que muitas vezes já esqueci.
Kisses e muitas bençãos lá de cima sobre ti!

E quando és tu a errar (muito)?

Tenho passado um longo período a descrer dos outros, a proteger-me de quem me faz mal, ou me quer mal, e ontem descobri que tenho sido muito...