sábado, fevereiro 20, 2010

Há 11 anos

nascia o meu primeiro sobrinho. Lembro-me de tudo. Das muitas horas de espera a passear pela baixa de Coimbra; de chorar quando recebi a notícia; do meu pai que, pela primeira vez desde a morte do A., tirou o fato preto. (Era cinzento claro o fato do meu pai, quando nesse dia cheguei a casa.) Por essa altura a minha vida doía-me tanto! Lembro-me de um tempo tão triste, de tanta incompreensão, duma espécie de dorida e tardia adolescência na minha alma velha. Lembro-me de que as mimosas no caminho para a escola onde eu era professora estavam em flor. E lembro-me de ti, enroscado e minúsculo, vestido de azul. Não azul-bebé. Azul mesmo, azul azul. E o teu rosto pequenino da cor das mimosas - depois passou.
E lembro-me de que nasci mais ou menos por essa altura. Outra vez. Entre as tantas vezes que renasço. Tu fizeste-me pela primeira vez ter vontade de festejar o Natal. Dois meses antes de nasceres: a minha única prenda para toda a família foi aquele cabaz de Natal que enchi de prendas só para ti. Depois de ti começou a alegria, o riso verdadeiro, o abraço sem inibições. Depois de ti - acho - aprendemos todos a ser família. Abriste caminho. Fizeste passagem. E tudo isso só pela força de seres um menino pequeno que nos foi dado. Ainda não sei como vivi tantos anos sem esse amor que agora reparto (extravazo) pelos meus quatro sobrinhos. Sou definitivamente uma pessoa melhor depois de ser tia.
E se em cada um dos meus meninos admiro e amo qualquer coisa única, em ti é sem dúvida a serenidade. Mistura de sensatez, inteligência, humor, amor. Serenidade, chamo-lhe.

quarta-feira, fevereiro 17, 2010

O meu Deus improvável

Chamo-Lhe improvável porque não posso provar que Ele existe, nem é necessário.
Chamo-o à minha vida, e acredito que me conduz através dela, embora os passos sejam meus. Vejo a Sua mão em todo o bem que me acontece, e nunca no mal. Nunca nas tragédias, sejam elas minhas ou da humanidade. Porque o meu Deus é o próprio bem. Não me manipula, estrutura-me e ampara-me. Crer n'Ele já me libertou do desespero algumas vezes.
É muito maior do que eu e não cabe nas palavras que eu conheço. Mas cabe inteiro no meu coração, e a maior graça que Lhe peço é nunca me envergonhar da Sua companhia.

Sim, este texto apareceu-me por tua causa, mas já disse não serão estas nossas diferenças que farão alguma diferença.

terça-feira, fevereiro 16, 2010

...

Eu para uma amiga reencontrada no facebook (o facebook tem coisas boas!):

- Curioso, tu que nunca pensaste ter filhos tens uma menina (ela é família de acolhimento de uma menina de 16 anos), eu que sempre quis ter um filho e viver sozinha com ele, continuo a viver sozinha, sem filho nem filha, só com as gatas. E deve estar bem assim, porque nem sempre sonhamos as coisas certas para nós. Deus sabe melhor do que nós aquilo de que precisamos.

- Bem verdade - diz ela.

Bem verdade, detenho-me eu a pensar.

terça-feira, fevereiro 09, 2010

Bebi um chocolate quente que me soube pela vida! Gosto tanto, e já há tanto tempo que não bebia, que quase me esquecera do conforto do sabor, do cheiro, e da textura de um bom chocolate quente. E as mãos na chávena, quentes. O toque, os sentidos.
Ainda me consolam estes mimos de inverno, mas tenho saudades do verão. Não do sol tórrido, e do cheiro a queimado no ar - há sempre, ou tantas vezes e tão doridas que a mim me parece sempre, um pinhal a arder por perto... - mas do mar, do calor na pele, do cheiro a protector solar...

domingo, fevereiro 07, 2010

Uma das minhas paixões felizes



Fotografar.

Aqui um pedacinho do quintal da casa dos meus pais, com o carvalho que eu plantei há muitos anos, e que cresce por esse céu fora como um grito meu. E as nuvens, as eternas nuvens, e a luz. Ainda vou aprender fotografia mais a sério, prometo-me!

Conversas com clientes

- Quero o perfume mais pequeno. Porque apesar de ser para a minha patroa, e se ela pedir o céu eu dou-lho...
- Mas dá-lhe só um pedacinho pequeno, um cantinho de céu sem nuvens nem estrelas nem luz, que essas coisas encarecem o produto...
- É -riu-se ele.

Gosto - tanto! - de conversar com clientes, dos que riem comigo, dos que não têm demasiados frenicoques. Gosto de ver o mundo aos poucos, no sorriso dos outros, no olhar dos outros. Dos outros que passam, e que talvez eu não veja mais. Isto também é viajar.

quinta-feira, fevereiro 04, 2010

Li algures

que só as crianças e os loucos conseguiam passar do choro ao riso e do riso ao choro em segundos. Ando para perceber se sou criança ou louca. Ou as duas coisas, há essa hipótese.

Chorei tanto, hoje! Um choro catártico, acho, porque não foi efectivamente pelas ninharias que me disseram.
O pior é a vergonha... Depois passou. Rapidinho. Mas agora estou muito cansada. Os aguaceiros deixam-me sempre assim.

E quando és tu a errar (muito)?

Tenho passado um longo período a descrer dos outros, a proteger-me de quem me faz mal, ou me quer mal, e ontem descobri que tenho sido muito...