segunda-feira, julho 31, 2006

Mil vezes, mil promessas

Eu perco todos os papéis importantes e guardo todos os que não servem para nada. E tenho a lata de estranhar quando não sei onde pûs tal e tal coisa de que precisava.
Mil e tantas vezes prometo mudar, mil e tantas vezes tento afincadamente, mil e tantas desisto. Eu sou uma mil e tante...

sábado, julho 29, 2006

De volta

da terrinha dos meus pais, descubro festa e ranchos folclóricos na minha. Sento-me confortavelmente, em frente ao computador, enrolada num vestido chinês vêlde (tlês eulos e meio), que hoje comprei para andar em casa, cansada que estou de pingar, salpicar e estragar a minha roupa.
Hoje foi um dia cansativo, um cansativo dia de folga, um dia muito bom.
Agora a gata Nuvem corre atrás e à frente da gata Julie, escondem-se nos armários e nos sacos de plástico, desfazem-me a paciência... Gosto tanto delas! :)
Hoje o dia foi longo. Cheio de reencontros.
Os emigrantes estão de férias, e agora os emigrantes não são só pessoas da idade dos meus pais. Agora os emigrantes são ex-colegas, vizinhos, amigos da minha infância e adolescência, com quem partilhei risos e tropelias e zangas.
- Estás com quantos anos? - pergunta-me o Carlos.
E quando lhe digo "quarenta", desce sobre mim a consciência do quatro e do zero, de irrevogavelmente ser adulta e ter pelo menos tanto passado quanto futuro. Talvez mais passado.

Reencontrei hoje, também, a I., uma amiga mais velha. Ela é parte daquele universo de amigos que se sabe que existem e estão e estarão lá, e até podem ver-se poucas vezes. Ela é mãe duma menina deficiente. Uma menina com quinze anos que não anda nem fala, que é a luz dos olhos da minha amiga I., e que faz os olhos dela ficarem brilhantes de amor e lágrimas. A C., a menina, é que me ensinou que amar uma criança deficiente é simplesmente amar uma criança.

Depois a Lena, exactamente a minha idade, vivemos uma com a outra metade das nossas vidas. Sempre um prazer reencontrá-la, sempre de alguma maneira o espanto por se escolherem caminhos tão distintos, e todos estarem certos.

E mais mimos, no final do dia: a luz dourada do céu a dar às árvores um ar de coisas de postal. E uma paragem para olhar o mar, na Costa de Lavos, virada para a Figueira da Foz. Final de dia. Luz, névoa, espuma. Podia ser uma paisagem de neve, e as luzes das casas ao longe um presépio inesperado. Lindo!
Lindo o meu dia!

quarta-feira, julho 26, 2006

Um problema difícil

Estava eu na minha absoluta e tranquila pacatez, quando me telefona um ilustre desconhecido a informar que ganhei quatro dias e três noites de alojamento num hotel (?), num de três lugares à minha escolha: Rio de Janeiro, Ilhas Canárias, Algarve.
Ãã??!
E digo que não senhor, muito obrigada, que não quero comprar nada.
Diz-me o ilustre desconhecido que não há nada para comprar, e que queira dirigir-me a um hotel próximo, para apenas levantar o voucher de estadia. Soa bem, "voucher"... Ah! e que tenho um ano para gozar a estadia.
Então, de voucher na mão, vai-se o meu pouco entusiasmo.

Ajudem-me a resolver este problema:
Tenho um ano a contar de hoje para usufruir da estadia, sendo que devo gozar destas espantásticas férias no período compreendido 30 de Outubro e 30 de Março, exceptuando-se os períodos de Fim de Ano, Carnaval e Páscoa.
Devo enviar este voucher num máximo de 30 dias após a data da recepção e um mínimo de sessenta dias antes da data pretendida para utilização, sob pena de caducar.

É impressão minha, estão a gozar com a minha cara, ou têm um calendário que inclui as famosas calendas gregas?

Vou fazer um aviãozinho de papel com o queridíssimo voucher. E vou voar até sei lá onde, e instalar-me nos simpáticos apart hotéis da minha imaginação.

Adenda: Bem, quando escrevi este artigo tinha bloqueada uma importante zona do meu cérebro. Mas se quiserem perceber o meu raciocínio, que até era engraçado, encalhem na palavra "mínimo" e substituam-na por "máximo".
Portanto, onde se lê "Devo enviar este voucher num máximo de 30 dias após a data da recepção e um mínimo de sessenta dias antes da data pretendida para utilização, sob pena de caducar." leia-se "Devo enviar este voucher num máximo de 30 dias após a data da recepção e um MÁXIMO de sessenta dias antes da data pretendida para utilização, sob pena de caducar."

Tudo assim explicadinho a cores percebem a minha confusão?

Ai que o mê cérebro está a pifar!!!

terça-feira, julho 25, 2006

Saudades

Saudades de estar aqui. Saudades de vos escrever e ler. Por ora, muito cansaço e dores de estômago.
Eu volto.

sexta-feira, julho 21, 2006

E crio-as eu com tanto amor!!


A pequena convenceu-se que era filha da grande.
A grande convenceu-se que era mãe da pequena.
Tão firmes foram nas suas convicções, e tanto a pequena mamou em seco, que agora a grande tem leite. E dores também tem, que eu percebo. Claro que a vou levar ao veterinário, mas hoje já tive uma conversa séria com elas.
Assim:
- Duma vez por todas, Julie! Tu vieste pequenina para cá. Nunca conheceste gato. És virgem, não podes ser mãe!
E tu, Nuvem, eras uma pobre bastarda que eu recolhi e alimentei com leite maternizado, a biberão, enquanto precisaste. Gratidão, já ouviste falar?! Faz-me lá o favor de me ser grata e de deixar em paz a gata Julie. Tens ali comida e água, estás a ver? Quem foi buscar? A dona, claro! EU!!! PERCEBERAM BEM?!

"Não é hora de contar os mortos"

Via tv, chegam-me ecos do que se passa em Israel e no Líbano. Não sei quem proferiu esta assustadora frase: "Estamos em guerra. Não é hora de contar os mortos."

As minhas perguntas não as faço. Desfaço-as.
Não é hora de compreender.

TOU-ME A PASSAR!!!

Quem é que veio aqui descarregar comentários ultra-simpáticos inadequados, descontextualizados, em inglês?
Agora gramem aí com a word verification!
Que coisa mais chata!
(Desculpem o incómodo, mas não quero a minha caixa de comentários cheia de desconhecidos sem criatividade nem oportunidade!)

quinta-feira, julho 20, 2006

Diz quem sabe

A minha querida prima-quase-irmã-mais-velha ensinou-me uma coisa de que hoje voltei a lembrar-me, e que, particularmente nesta altura do ano (porque abundam as dietas e a urgência de emagrecer) convém que se saiba. Em vez de guardar comigo tão maravilhoso segredo, a chave do sucesso para quem quer perder uns quilos, vou partilhar:

Devemos comer muitos gelados. Os gelados fazem-nos emagrecer. Porque toda a gente sabe que o calor dilata os corpos.
E então, como é que ainda não vos tinha ocorrido?

terça-feira, julho 18, 2006

As minhas nozes

Dá Deus nozes a quem não tem quebra-nozes. Ou não é assim?
Falo das férias e da vontade que já tinha de voltar ao trabalho, e do quanto isso pode parecer estranho. Hoje voltei. E soube-me bem.
É que estas férias não foram as que eu merecia. Não foram. Eu merecia um destino paradisíaco, e uma carteira recheada de notas, e boa companhia...
Mas não. As férias a que tive direito incluiram o carro avariado, um calor impossível, e eu própria mais as gatas por única companhia, que as pessoas que deviam ter vindo ter comigo, afinal não puderam. E eu, por falta de "disponibilidade", também não pude ir a lado nenhum. Vi os meus sobrinhos, irmãos e pais. E "viva o velho!", como se diz na minha terra.
Subsídio de férias? Mas haverá quem o possa gastar em férias? (Ainda tive a ideia de pedir uma segunda via...)

Bom, já passaram. As minhas feriazitas. Para o ano há mais. A ver se são melhores. Que não morra a esperança. Nunca. Mas se morrer, que seja sem sofrimento.

domingo, julho 16, 2006

Daqui a milhares de anos que será deste blogue?

RVA
A pergunta ocorreu-me por me lembrar duma cena da nossa adolescência: Tínhamos ido almoçar à serra, toda a família. Era a mesma coisa que almoçar em casa, mas era na serra. Havia as pedras, as cucas, as mini-grutas. E depois do almoço, o meu irmão mais velho escondeu um osso de frango atrás duma rocha. Virou-se para nós e disse:
- Daqui a milhares de anos venho cá e está cá um fóssil.

Carochinha

Ontem encontrei 12 cêntimos quando arrumava as tralhas no quarto. Eram duas da manhã, pensei pôr-me à varanda a perguntar quem queria casar comigo, mas optei por me calar - vai que alguém se candidatava!... (Esclareçam-me lá por favor, a carochinha ESCOLHEU o João Ratão, ou foi assim o primeiro que lhe apareceu?)
Agora, a lavar a louça, parti um copo. Que me custou mais que 12 cêntimos.
Se tivesse acontecido o mesmo à Carochinha, talvez se tivesse evitado a morte do João Ratão.
Há males que vêm por bem!

Um sorriso para aliviar

Gosto de cantar com o aspirador ligado. Parece-me que canto melhor...

O verão


O verão traz-me sempre, de há muitos anos a esta parte, a horrível sensação de sufocar. Sufoco não só de calor. Em dias de verão como o de hoje, arde-me a paciência, ardem os neurónios, esfumo-me... Dou um relance pelas notícias do mundo (apenas os títulos, que eu não gosto de estar demasiado informada) e a angústia enrola-se, como uma cobra, ao meu pescoço. E depois as sirenes dos bombeiros, e........
AAAAAAAAAAAAAAIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIII!!!!!

sábado, julho 15, 2006

Tudo o que me apetecia fazer hoje

De repente apeteceu-me fazer de conta que tenho 7 anos e escrever uma redacção subordinada a este tema:


Tudo o que me apetecia fazer hoje
Eu hoje gostava de já ser grande e ter um trabalho onde ganhasse muito dinheiro. Depois eu mandava fazer uma piscina com muitos quilómetros e convidava os meus amigos todos para irem para lá brincar e nadar, porque estava muito calor. E eu gostava de ter muito dinheiro, porque se eu quisesse podia passar o dia todo lá na piscina, e muitos dias todos a seguir, e não ia trabalhar se não me apetecesse. E podíamos comer só gelados, como já éramos todos grandes as nossas mães não ralhavam. Quando eu fosse grande eu gostava de fazer muitas coisas, mas hoje ficava só na piscina, e não lavava a louça, e não arrumava a casa, porque está muito calor.

sexta-feira, julho 14, 2006

Experiências fotográficas







E perguntava a Cris: o que estás tu a fazer aos meus cristais Atlântis?

- Ai, desculpa, não sabia que eram de tão alta estirpe!

O meu pisco pequenino


Continua lindo, como o Rio de Janeiro.
Fui vê-lo ontem, tomou café comigo. Isto é, lambeu o pau de canela.

E vai para a praia amanhã, o meu pisco.
Boas férias, puto!

quarta-feira, julho 12, 2006

O egoísmo dos outros, o único egoísmo :)

Às vezes acontece-me, perante uma coisa que sei que trará sofrimento aos outros (na eminência dessa coisa), preferir dar à sola. Cobardemente. Aconteceu-me há pouco, e tenho andado a pensar nisso.

Há uns anos atrás eu arrisquei dizer o que pensava e penso, que egoístas somos todos, uns mais e outros menos. Excepções haverá com certeza, as suficientes para confirmar a regra. A pessoa que me ouvia, na altura, inflamou-se - literalmente, quase era possível ver as chamas a sairem pelos orifícios da cara - e gritou-me que ela não, não era nadinha egoísta. Estranhamente, tenho para mim que a pessoa em questão é das mais egoístas... shiuuu, não lhe digam nada!...

Ora, o contrário do egoísmo é o altruísmo. Qual dos dois nos é mais natural? Quantos de nós, perante uma situação em que temos de escolher entre o que nos beneficia a nós e o que beneficia outros, escolhe beneficiar os outros? (A não ser que os outros sejam os filhos, porque o amor de pais, digo eu, é um caso aparte...)

Acresce que, pelo que tenho podido observar, as pessoas mais egoístas, mais manipuladoras também, muitas vezes se fazem rodear de uma aura de bondade que engana a todos durante muito tempo, e sei lá se não as enganará a elas próprias...

segunda-feira, julho 10, 2006

Estou de volta!


Sabe-me bem estar de volta.
Foram um dias muito bons, cheios de mimos de meninos e (restante) família, e de um cão chamado Ninja, que me "lavou" a cara muitas vezes.

Mas também é tão bom (!!) estar de volta!...
Gosto tanto do meu cantinho, da minha paz, da minha solidãozinha!


Huuuuuummmmm!!!.............

(E com muito gosto quebrarei esta solidão para receber os amigos que aqui desejarem aportar!)

Um aparte: Obrigada, amigo! Foi muito bom ter o livro na caixa do correio, à minha espera.

quarta-feira, julho 05, 2006

Só mais isto:

Eu sempre gostei muito de cães.
Desde menina que tive cães que brincavam comigo e me lambiam as lágrimas.
Em contrapartida não gostava de gatos.
Agora que tenho duas gatas, gosto imenso delas. E continuo a gostar de cães.
Ora bem, verdades de La Palice: os gatos não são cães e os cães não são gatos. Não posso pedir a um gato que seja cão para eu gostar dele. Se é para gostar dele, tenho que o deixar ser gato.
Seria uma parvoíce que um gato olhasse para um cão e pensasse: o cão é giro. Eu não sou cão. Logo, não sou giro. Ainda bem que os gatos são descomplicados e nunca ouviram falar de silogismos.O mesmo não poderei dizer de mim, que muitas vezes acho que só valeria se me parecesse com outras pessoas que eu admiro.
Perceberam alguma coisa?

Ó blogue, pá!


...vais ficar sem mim por uns dias, ok? Vou para o campo. Vou dormir na minha cama de menina, abraçar os meus sobrinhos, acalentar os meus pais... Vou sentir o cheiro da horta, talvez regá-la, talvez mergulhar os pés no barro molhado.
Por uns dias, não me terás aqui.
Sei que quando voltar vou ligar o computador e abrir-te, ó blogue, na esperança de que tenhas comentários novos para eu ler. Porque os comentários são o rasto da passagem dos amigos.
Querido blogue, quando eles vierem, os amigos, diz-lhes que sentem, que estejam à vontade, que escrevam qualquer coisa, que tomem uma bebida.
Eu vou para o campo. Vou sentir o aroma bom das sardinheiras da minha meninice. Não, não são as senhoras que vendem sardinhas, essas não ando a cheirá-las. São estas flores.

As minhas feras

Saudades


Saudades de me sentar na areia, eu, o mar e mais ninguém!

(Estará para breve, espero)

(A parte do "mais ninguém" é que poderá ser mais difícil, agora que estamos em Julho... mas também gosto da praia com gente, de partilhar a alegria, das bolas dos desportistas a cairem-me na tola!... ?!!)

Pensamento profundo

Não gostava nada de morrer em início do mês, não antes de ter tido tempo de gastar o meu ordenado.

terça-feira, julho 04, 2006

blogue das arrumações - post hiper-longo. Desculpem ou passem ao lado!

Aqui as gatas não conseguem aceder. :)
Andei a arrumar a caixa de cartão. E lá encontrei um relato de umas férias fantásticas, que vou deixar aqui... Mais para mim do que para quem lê, que pode não ter interesse, mas enfim. Não é à toa que toda a gente me diz que sou egocêntrica. Eu cá não me importo: se alguém tem que estar no centro, porque há-de ser outro se posso ser eu? No centro está a virtude, nunca esquecendo...

TRÁS - OS - MONTES. Agosto de 1992
9 horas, 30 minutos do dia 15 de Agosto de 1992. A aventura começaria. Desde as 8 horas que me encontrava pronta para a partida. 9 horas, 30 minutos era a hora do programa para quebrar as amarras, rumo à Terra Prometida. E a terra prometida era o vago destino sem rumo certo em que quatro cidadãs do mundo haviam de encontrar-se.
11 horas e muito minutos. Saída, com percalços, atrasos e muitos esquecimentos. Quase à chegada a Coimbra disse a Lena:
- Temos que voltar atrás, esqueci-me da saboneteira.
Mas continuámos, claro! A Céu esperava-nos em Coimbra. Almoço junto ao rio Mondego, por onde procurámos o Choupal. Estava mesmo ao lado, mas as portas estavam fechadas...
Aveiro. Feira Internacional de Artesanato. Lindas coisas. Coisas maravilhosas. E a cada uma a sua tendência. Uma era mais bolos, a outra mais mochilas, e havia ainda quem fosse mais brinquedos. Comprei um pinto com rodas e cabo, para o meu afilhado Ruben, mas o pinto já se divorciou das rodas. Não una o homem o que Deus separou.
Falando em carros, recomeço. Vejamos as características deste em que ora viajamos.
Retrato físico: branco por fora, cinzento por dentro, pneus pretos.
Retrato moral: cuidadoso com as crianças. Os vidros de trás não abrem completamente; as pequeninas vêem a paisagem sem risco de rebolar por ela abaixo.
De 15 para 16 de Agosto acampámos no parque da Costa Nova, perto de Aveiro. A 16 de Agosto acordei muito esperta e pûs-me à procura do mar. Cheirei-o, senti-o, estive decerto próxima, mas não o vi
A Cristina bebeu groselha por razões óbvias que agora não refiro. Pelas razões inversas havia eu de beber azeite, e comer granulado para coelhos. (Na referência ao segundo produto por mim ingerido, fiz uso duma metáfora da autoria da Cristina.)
De Aveiro a Vila Real (de Trás os Montes) foi um pulinho algo comprido, em que de carro viajámos, ouvindo música e observando as linhas de água, os socalcos, e as coisas simples da vida, de que a Cristina tanto gosta (os solares).
Em Vila Real acampámos ao fim da tarde do dia 16.
17 de Agosto. Saímos em direcção a umas fisgas de Ermelo, onde tivemos muita atenção. Não nos aproximámos demasiado, qualquer descuido podia ser fatal. Fatal também é o fado de Lisboa, contrariamente ao de Coimbra, que é apenas triste. Foi uma observação brilhante da Céu. A dada altura, a Cristina também falou com muita propriedade, e bem, que era bom que a Igreja se consumisse por se dar ao mundo, como a lenha se consome para aquecer os lares. A Céu reparou na beleza do dito: "Estás a falar muito bem!" Inquirida àcerca da razão do seu espanto, alegou falta de hábito.
Sem respeitar com escrúpulos demasiados a ordem cronológica dos acontecimentos, referirei ainda que a Céu andou por tortuosas e espinhosas bermas, em equilíbrio precário à beira de um quase abismo, para fugir ao perigo rodoviário. Visitámos uma aldeia lindíssima, Lamas d'Olo, onde todas as pessoas cumprimentavam toda a gente, onde eu caí como se me sentasse num poltrona, e onde as vacas estavam em amena convivência com os humanos. Amena convivência, é como quem diz. Convivência. Quando vi as quatro indefesas cidadãs do mundo dentro do carro, e de frente para elas uns animais munidos de cornos, só pude exclamar:
- Ai, que os cornos partem vidros!
E a céu, a proprietária do veículo, que se sentava ao meu lado esquerdo, imaginou-se regressando ao lar, doce lar, com um carro escavacadinho. Como explicaria ela o sucedido?
- Foram umas vacas, em sentido literal, que...
As fotografias foi vê-las gastarem-se.
Muas e a paisagem circundante é magnífica. Vimos muitas cabras, ou chibos, e vacas, as fatídicas.
À noite, já de novo no parque de Vila Real, recitou-nos a Céu um poema de Khalil Gibran ("O Vagabundo") adaptado à nossa situação histórico-geográfica:
Na margem do Cabril
ao cair da tarde,
uma vaca encontrou-se com um chibo
e pararam a cumprimenta-se.
- Como vai esse dia, meu senhor?
perguntou a vaca.
O chibo respondeu, dizendo:
- Vai mal.
Por vezes na minha dor e na minha tristeza
choro, e as criaturas dizem sempre:
- São apenas lágrimas de chibo.
Isso magoa-me mais do que se pode dizer.
A vaca disse-lhe
- Falas da tua dor e tristeza,
mas pensa em mim durante um momento.

Contemplo a beleza do mundo, as suas maravilhas e os seus milagres,
e, de pura alegria, rio-me,
como se ri o dia.
Então os habitantes de Vila Real dizem:
É apenas o riso de uma vaca.

(Nota: onde se lê vaca leia-se hiena;
onde se lê chibo leia-se crocodilo;
onde se lê Cabril leia-se Nilo;
onde se lê Vila Real leia-se selva.)

18 de Agosto. Às duas horas da madrugada, a Lena e a Céu chegaram de um banho no rio Cabril (iam ficando fora do parque de campismo). Acordei. Chovia. A Lena recolheu para dentro da tenda os apetrechos que a chuva podia "magoar", e a Cristina, a dormir, disse que não conseguia. Mas conseguiu. Ela e a Céu conseguiram dar-me cotoveladas durante toda a noite. A Lena passou por sobre as minhas pernas como se eu fora tapete. Nunca vou esquecer-me desta noite.
De manhã, manhã já alta, pagámos cada uma 750$00 para ver um solar (Casa de Mateus) - daquelas coisas simples de que gosta a Cristina, a que a sua posição de engenheira agrícola a liga. A isso, e às linhas de água, claro.
Depois, viajámos de comboio até à Régua, onde já tínhamos estado. Uma viagem que todas apreciámos muito, especialmente a Lena e a Céu, que dormiram durante a maior parte do trajecto.
E agora farei aqui uma analepse (assiste sempre ao narrador o direito de fazer analepses) para registar um facto importante que até agora me ia olvidando: no dia 16 de Agosto, a caminho de Vila Real, encontrámos uma capela que se dizia da Sra da Dúvida. Gostei muito do nome. À volta havia apenas montanhas. Gosto da dúvida, gosto das montanhas, e da fé que sabe crescer duvidando.
Só uma outra analepse: no dia 17, numa localidade de nome Feira, bebemos um café que tinha pouca arábica. (Informação da nossa consultora agrícola, Cristina.)
No preciso momento em que escrevo estas palavras, estou a ficar cansada de esperar as outras três cidadãs do mundo, que andam a visitar os monumentos de Vila Real. Eu é mais café.


A nossa vagamundagem não terminou por aqui, mas a minha vontade de passar à escrita as coisas vividas terminou. Disso me penitencio, mas cada uma agora que escreva aqui, de sua justiça e boa memória, aquilo de que se recorde. As fotografias hão-de falar de outros momentos, e alguém disse que uma imagem vale por mil palavras. Ou novecentas e noventa e nove.

La valise en carton

É a segunda vez que escrevo este post. Digamos que se trata de um repost... O blogger engoliu a primeira tentativa.
Então quero falar da valise en carton. A bem dizer, neste caso não se trata de valise mas de uma caixa de cartão que comprei para manter arrumadas as minhas papeladas. Papeladas e fotografias, muitas, algumas de pessoas e coisas que já mal recordo, porque eu era uma fotógrafa compulsiva. E tinha uma máquina fantástica, uma Canon não sei quantas, que ofereci ao meu irmão e cunhada quando comecei a ver os rolos a acumularem-se e eu sem carcanhol para os revelar. Abençoada fotografia digital. E no entanto, que saudades da outra máquina, que me permitia habilidades e brincadeiras maravilhosas no jogo de luz, sombra, cor, movimento, cristalização!...
Voltando à vaca fria, não há caixa de cartão que resista às investidas de duas gatas. Agora tenho muitos bocadinhos de caixa de cartão, duas gatas felizes (valha-nos isso!) e milhentas fotografias inarquiváveis...

Bem, a propósito do título, eu espero que a Linda de Suza não tivesse gatas lá na terre de France, porque senão imagino que tenha tido que comprar uma valise nova...


P.P. (pós post): Afinal, o post perdido apareceu! Um brincalhão, este blogger. Agora, por causa das tosses, ficam os dois...

La valise en carton

Por acaso não se trata de uma valise. Eram umas caixas de cartão que eu comprei cheia de boas intenções para manter as papeladas arrumadas. Não há absolutamente rien en carton que resista à fúria destruidora de duas gatas, uma delas pequenina e cheia de genica. Numa das caixas guardei fotografias antigas. Tenho milhentas, algumas muito bonitas e imensas sem interesse, de pessoas e tempos e coisas que já passaram... Abençoada fotografia digital, que nos permite imprimir apenas o que realmente interessa!
E no entanto... que saudades da minha velha máquina não digital, dos maravilhosos barulhinhos que fazia e das habilidades que me permitia!

Bem... voltando ao título, espero que a Linda de Suza não tivesse gatas lá a viver com ela sur la terre de France. Porque caso contrário só a imagino querendo voltar ici, à son Portugal et... evidemment, teve que comprar outra valise.
La pauvre!
Por falar em la pauvre, que é que eu faço a uma caixa de cartão roído e a muitas fotografias inarquiváveis?
La poubelle, peut-être...

segunda-feira, julho 03, 2006

Intervalo

O intervalo canta-se e conta-se no meu blog dos lírios...
Espero que gostem. Eu escrevi há 8 anos, e gostei.

Banalidadezinhas: como o tempo passa!

domingo, julho 02, 2006

Namoralavras

Desfilam hoje nesta praça palavras felizes, casos de amor. Porque me apetece e a passadeira vermelha está estendida:

O balde e a balda
O traço e a traça
O tesouro e a tesoura
O luto e a luta
(O puto e a puta)*
O falo e a fala
O solo e a sola
O meio e a meia



....Ai! Mandem-me ir dormir!!!

*Estes introduziram-se aqui à socapa, fintando a apertada segurança.
As nossas desculpas.

O blogue segue dentro de momentos...

Chiça!

Tenho grande dificuldade em comer ao pé da minha Nuvem, a minha gatinha pequena. Sempre esfomeada, sempre esganada, não me desampara a loja. E eu juro que a mantenho alimentada! Quer provar tudo. Então, queijo, que já viu que gosta!... O mal dela é que somos duas. Eu também adoro queijo.
Há bocadinho estava ali a preparar um pão com queijo para mim. Veio a gata desarvorada não sei de onde (não sei que árvore, não é o que "desarvorada" quer dizer?) e cola-se a mim e ao MEU queijinho. Chiça!, disse eu.
E porque o disse lembrei-me duma coisa que digo às vezes, desconhecendo o autor:

Porra - disse a D. Marquesa,
batendo com os seios* na mesa.
Mas depois,
lembrando-se da esmerada educação
que seu pai lhe dera na Suiça,
retirou o porra
e disse:
Chiça!

* Não era "os seios", mas quis ser delicada neste lugar de acesso a muitas e desvairadas gentes. Eu nunca estive na Suiça, nem o meu pai, mas ainda assim...

E quando és tu a errar (muito)?

Tenho passado um longo período a descrer dos outros, a proteger-me de quem me faz mal, ou me quer mal, e ontem descobri que tenho sido muito...