Olhar impaciente, sem brilho nem curiosidade. A boca um risco horizontal, indiferente, nem triste nem alegre. A pele pálida, quase transparente, como se, num passe de mágica, a qualquer instante, pudesse dissolver-se na paisagem, ser talvez parte do tronco de uma árvore, ou um bocadinho de liberdade inesperada nas asas de uma andorinha.
Sorri à aproximação de alguém dos seus antigos afectos, daqueles que, por terem sido fundos, não esquece. Mas até deles se desinteressa, minutos depois.
Dir-se-ia rodeado de um invisível círculo, que o protege mas aprisiona.
E depois, de velho passa a criança, desinteressado ainda, mas criança, e sob orientação da animadora social, cola grãos e pedacinhos de papel colorido sobre um pedaço de cartolina branca. É de novo um menino na escola, rodeados de outros meninos com dificuldades de locomoção. Imagino que tenha vontade de qualquer coisa de diferente, mas acreditamos que os exercícios simples lhe estimulem o cérebro meio adormecido e o impeçam de deslizar mais e mais para o seu bocadinho de escuridão.
sexta-feira, fevereiro 17, 2012
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2 comentários:
Triste, terminar a vida assim...
Um beijo.
(o que eu me ri com o teu comentário sobre o dispositivo "pega-chupeta", é verdade, posso sempre ser eu a inventora!)
É a quadratura do círculo absolutamente real e deprimente!
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