sábado, setembro 29, 2012

Remorsos

Eu tinha duas gatas, a Julie e a Nuvem.  A Julie era uma vadia que não parava em casa, e que na rua, segundo a veterinária por causa do stress das bulhas com os outros gatos vadios, apanhava constantemente fungos, cujo tratamento me ficava bem caro. Custava fechá-la em casa e deixá-la a chorar todo o dia. Decidi levá-la para o campo, para casa da minha mãe, onde ela teria toda a liberdade do mundo, muito espaço e muito verde, e onde a minha mãe a trataria.
Assim que a pus no chão a gata desapareceu. Eclipsou-se. Fiquei lá um dia e cansei-me de a chamar. Nunca mais se viu. Não tendo feito de propósito, foi como se a tivesse abandonado... Chorei dois dias seguidos, e depois decidi que já chegava de tanto choro. Ainda tenho remorsos. Ainda imagino a minha gata a passar fome por aí, sentindo-se abandonada, e ainda espero por ela. Que apareça. Lá ou cá. Que apareça. Fica em jeito de confissão de uma coisa má que eu fiz e que já não posso corrigir. Agora só tenho a Nuvem.

2 comentários:

CLS disse...

Não tens que confessar o que não tem absolvição por não ser pecado, fizeste o melhor para ela, a Natureza fez o resto. Um beijinho.

Liliana disse...

Obvio que não acredito que o fizeste de propósito... mas oh Dulcita, levar a gata para aquela terriola? Mas achavas que ela ia gostar? Tu gostas???? Olha que eu não!... Mas fica descansada que ela deve andar bem... explorar novos horizontes, fazendo novas amizades,...

E quando és tu a errar (muito)?

Tenho passado um longo período a descrer dos outros, a proteger-me de quem me faz mal, ou me quer mal, e ontem descobri que tenho sido muito...