domingo, janeiro 22, 2012

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Desde que me conheço adulta vivi sozinha. Tive e tenho muitos e bons amigos, mas nunca encontrei um companheiro com quem pudesse partilhar os dias e as horas, que envelhecesse comigo, que visse o meu corpo criar rugas e flacidez e fosse capaz de me achar bela ainda assim. E reciprocamente. Nunca isto me incomodou e soube sempre que esta era a forma de vida que mais convinha ao meu feitio difícil, às minhas inesperadas neuras, à minha originalidade e independência. E porque quero que as minhas asas não se deixem limitar por externas condições que não sejam as absolutamente necessárias. Mas agora que começo a envelhecer - diz-se que os quarenta anos são a velhice da juventude - confesso que me sinto muitas vezes muito só, que muitas vezes me apetecia um abraço que fosse inteiramente meu...
E lembro-me de uma coisa que uma vez um amigo da escola me escreveu, naqueles livrinhos de autógrafos que usávamos - quando ainda sabíamos que éramos todos suficentemente importantes para querermos autógrafos uns dos outros, e isso faz de facto muito mais sentido que ter autógrafos de gente absolutamente desconhecida apenas porque, por mérito nenhum, apareceram na televisão. Escrevia esse amigo, com quem tenho o imenso prazer de conviver ainda: "Podes ser livre e podes ser amado, mas nunca penses ter as duas coisas ao mesmo tempo". Pois eu, garganeira me confesso, queria as duas.
Acho verdadeiramente que nestas coisas não fazemos escolhas, a vida fá-las por nós. Em parte, pelo menos.

7 comentários:

SCAS disse...

eu também achava o mesmo - que nunca ng se iria enquadrar no meu modo de ver as coisas, q nunca eu iria ceder do meu espaço por outros, q nunca ng me conseguiria aturar por tempo suficiente... até conhecer a pessoa certa. Que afinal existe... Não desistas! beijinho afectuoso

Dulce disse...

Obrigada, SCAS. O teu comentário enterneceu-me. Estou com a ternura à flor da pele, a tal dos quarenta, cantada por alguém que pelos vistos não é assim tão terno...

mfc disse...

Pois eu acho que essa é uma frase feita e que tem o valor que lhe quisermos dar!
Amar não é nenhuma prisão.
Amar é poder partilhar... e a partilha pode tornar tudo mais bonito ainda!

um beijo grande.

Dulce disse...

mfc, nessa altura éramos apenas miúdos, adolescentes, vá, mas para mim a dicotomia existe. Ainda que só nos meus pensamentos. Pode ser que um dia me liberte...
Mas já agora... apresente-me uma frase que não esteja feita.

Só Sedas disse...

eu, romantica me confesso, acredito que se podem ter as duas. Claro que quando amamos nao somos completamente livres uma vez que partilhamos a vida com uma pessoa e nao podemos manobra-la a nosso belo entender mas podemos encontrar liberdade dentro desse amor. Às vezes leva algum tempo a encaixar e a sentirmo-nos confortáveis com a situação mas a vida também vai pondo as coisas no sitio. Se a solidão começar a pesar mais do que a liberdade, as prioridades mudam e o que era importante ontem, deixa de sê-lo hoje. Eu acredito que o amor, a partilha e a companhia pode acontecer a qualquer idade. Felizmente conheço alguns casos de pessoas que não estavam á espera e com 40, 50 anos puf! Foram atacadas pela seta. Se algum dia mudar de ideias, acredito que vai muito bem a tempo.

:)

Dulce disse...

Obrigada, Sedas. Acho que sim, que as prioridades começam lentamente a mudar... :)

De qualquer forma, quero salientar que este texto não é propriamente para me queixar, apenas para "me" verbalizar.
Ah, e já agora também não é nenhum concurso público... ;)

Ana disse...

Pois eu, com 40, continuo a achar que viver a dois não combina com a minha maneira de ser. E já vivi a dois, sei como é, sei que a minha sede de liberdade acaba por falar mais alto.
No entanto, em momento algum me sinto sozinha, já que esta liberdade permite-me estar com quem quero, quando quero, sem ter necessariamente de haver um compromisso que me sufoque. Digamos que consegui encontrar o melhor de dois mundos: não abdico dos abraços e não abdico da minha liberdade.

E quando és tu a errar (muito)?

Tenho passado um longo período a descrer dos outros, a proteger-me de quem me faz mal, ou me quer mal, e ontem descobri que tenho sido muito...