Desde que me conheço adulta vivi sozinha. Tive e tenho muitos e bons amigos, mas nunca encontrei um companheiro com quem pudesse partilhar os dias e as horas, que envelhecesse comigo, que visse o meu corpo criar rugas e flacidez e fosse capaz de me achar bela ainda assim. E reciprocamente. Nunca isto me incomodou e soube sempre que esta era a forma de vida que mais convinha ao meu feitio difícil, às minhas inesperadas neuras, à minha originalidade e independência. E porque quero que as minhas asas não se deixem limitar por externas condições que não sejam as absolutamente necessárias. Mas agora que começo a envelhecer - diz-se que os quarenta anos são a velhice da juventude - confesso que me sinto muitas vezes muito só, que muitas vezes me apetecia um abraço que fosse inteiramente meu...
E lembro-me de uma coisa que uma vez um amigo da escola me escreveu, naqueles livrinhos de autógrafos que usávamos - quando ainda sabíamos que éramos todos suficentemente importantes para querermos autógrafos uns dos outros, e isso faz de facto muito mais sentido que ter autógrafos de gente absolutamente desconhecida apenas porque, por mérito nenhum, apareceram na televisão. Escrevia esse amigo, com quem tenho o imenso prazer de conviver ainda: "Podes ser livre e podes ser amado, mas nunca penses ter as duas coisas ao mesmo tempo". Pois eu, garganeira me confesso, queria as duas.
Acho verdadeiramente que nestas coisas não fazemos escolhas, a vida fá-las por nós. Em parte, pelo menos.
domingo, janeiro 22, 2012
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7 comentários:
eu também achava o mesmo - que nunca ng se iria enquadrar no meu modo de ver as coisas, q nunca eu iria ceder do meu espaço por outros, q nunca ng me conseguiria aturar por tempo suficiente... até conhecer a pessoa certa. Que afinal existe... Não desistas! beijinho afectuoso
Obrigada, SCAS. O teu comentário enterneceu-me. Estou com a ternura à flor da pele, a tal dos quarenta, cantada por alguém que pelos vistos não é assim tão terno...
Pois eu acho que essa é uma frase feita e que tem o valor que lhe quisermos dar!
Amar não é nenhuma prisão.
Amar é poder partilhar... e a partilha pode tornar tudo mais bonito ainda!
um beijo grande.
mfc, nessa altura éramos apenas miúdos, adolescentes, vá, mas para mim a dicotomia existe. Ainda que só nos meus pensamentos. Pode ser que um dia me liberte...
Mas já agora... apresente-me uma frase que não esteja feita.
eu, romantica me confesso, acredito que se podem ter as duas. Claro que quando amamos nao somos completamente livres uma vez que partilhamos a vida com uma pessoa e nao podemos manobra-la a nosso belo entender mas podemos encontrar liberdade dentro desse amor. Às vezes leva algum tempo a encaixar e a sentirmo-nos confortáveis com a situação mas a vida também vai pondo as coisas no sitio. Se a solidão começar a pesar mais do que a liberdade, as prioridades mudam e o que era importante ontem, deixa de sê-lo hoje. Eu acredito que o amor, a partilha e a companhia pode acontecer a qualquer idade. Felizmente conheço alguns casos de pessoas que não estavam á espera e com 40, 50 anos puf! Foram atacadas pela seta. Se algum dia mudar de ideias, acredito que vai muito bem a tempo.
:)
Obrigada, Sedas. Acho que sim, que as prioridades começam lentamente a mudar... :)
De qualquer forma, quero salientar que este texto não é propriamente para me queixar, apenas para "me" verbalizar.
Ah, e já agora também não é nenhum concurso público... ;)
Pois eu, com 40, continuo a achar que viver a dois não combina com a minha maneira de ser. E já vivi a dois, sei como é, sei que a minha sede de liberdade acaba por falar mais alto.
No entanto, em momento algum me sinto sozinha, já que esta liberdade permite-me estar com quem quero, quando quero, sem ter necessariamente de haver um compromisso que me sufoque. Digamos que consegui encontrar o melhor de dois mundos: não abdico dos abraços e não abdico da minha liberdade.
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