Quando era menina não tinha medo. Quando era adolescente, não tinha medo. Nem do escuro, nem de sair de casa, nem de desconhecidos... Demorei muito tempo a aprender o medo. Já adulta, convidei um toxicodependente para jantar em minha casa, levei no meu carro um bêbedo que me pediu que o levasse a casa, abri a porta a um estrangeiro que me pediu café (coffee) à meia noite... Não sei bem porquê nunca ninguém me fez mal, nesses momentos de perfeita inconsciência... O meu anjo da guarda tem umas grandes asas e gosta muito de mim, é o que posso concluir. Sempre tive uma quase ilimitada confiança na bondade dos outros, ainda que não os conhecesse. A verdade é que sempre recebi feed-back positivo dessa confiança, repito, nunca desconhecido algum me fez mal. Pelo contrário, muitas pessoas se cruzaram no meu caminho e me ajudaram quando eu precisava de ajuda, e não perguntaram quem eu era nem desconfiaram de mim. Lembro-me de um abraço inesquecível que um bombeiro me deu, depois de um acidente, quando eu apenas precisava de um abraço. Recordo pessoas que me devolveram o ânimo só porque me sorriram, ou passaram um braço sobre os meus ombros... não me conheciam.
Mas este mundo está perigoso. Ou sou eu que vejo mais televisão, ou ouço, mesmo sem querer ouvir, histórias menos felizes que as minhas.
Fiquei triste quando hoje descobri em mim medo do escuro, medo de pessoas que passam na noite em ruas por onde também tenho que passar.
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1 comentário:
Li com tristeza, mas gostei muito da forma como falaste do desgosto de se ter medo realmente do que para aí anda a acontecer!
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