Quase uma da manhã. Prestes a deitar-me, decido-me a ir espreitar o correio. Vizinho no elevador. Extraordinariamente bêbedo. O vizinho, claro.
Peço-lhe que se vá deitar, que não saia.
Percebo nele uma angústia qualquer, para além (ou atrás) da bebedeira. Pressinto e percebo-o num telefonema que me pede para fazer, do telefone cá de casa. "Eu pago-lhe tudo", diz.
"Tudo bem", tranquilizo-o.
Pede-me para aceder à internet. Digo-lhe que sim. E quando fica claro que não consegue sequer escrever o endereço de uma página, peço-lhe gentilmente que saia, que vá para casa (ao lado), que me deixe sozinha, por favor, que quero descansar. Ele sai. Ouço ainda o elevador, e as portas, e as portas, e o elevador. Nunca o vi assim, antes.
Não é um desconhecido. É o vizinho. Sempre solícito, sempre educado.
Deixou-me de recordação uma beata de um cigarro, que não fumou, trincou (literalmente). E deixou-me este desconforto. Preocupação. Porque tão próximos da vida dos outros, estamos tão longe.
Estamos tão sozinhos.
Se ele me tivesse pedido atenção, ajuda, antes de se embebedar, não apenas depois?
Eu teria achado estranho, incomum, mas não lha teria recusado.
E como podia ele saber?
E quando eu me sinto só?! Tão perto que os outros estão, e contudo tão longe de mim!
Mas não, eu não costumo embebedar-me.
Há muito que aprendi que isso só agiganta os meus problemas...
terça-feira, novembro 14, 2006
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5 comentários:
mais que o desconforto, fica na alma uma inquietude, a roçar a incompreensão e a impotência...
...e uma pena...imensa...
*
Que cena...
mas nunca é tarde para tentar dar um apoio
talvez hoje ele já consiga falar no assunto
às vezes não resolve mas ajuda
Sobretudo, fica a sensação de impotência...
Concordo consigo. Bebedeira não é solução.
:s
Imagino como ficaste...
Às vezes é tão dificil ajudar, até porque os outros não querem ser ajudados.
Verdade essa proximidade física e grande distanciamento emocional.
Beijocas e espero que estejas melhor.
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