terça-feira, fevereiro 06, 2007

A porta que se julgava esperta e a dona que sofria de cólicas a horas impróprias



A porta estava empenhada em eliminar de raiz os preconceitos contra as suas congéneres e não suportava que ao pé de si alguém ousasse proferir o célebre dito "estúpida como uma porta". Essa era a sua luta. E como era uma porta iluminada (o candeeiro estava mesmo ali perto), e além disso estudiosa, já lera Sócrates e ficara-lhe aquele conselho: Conhece-te a ti própria e Deus te conhecerá. Qualquer coisa assim. Por isso é que se olhava tanto ao espelho.





A dona da porta, que, como já se disse, sofria de cólicas, sofria também de alguma insensatez, coisa que ainda não se disse. Essa insensatez é que a fazia fotografar gatas em movimento com a máquina em modo de fotografia nocturna, onde se sabe que modelo e fotógrafo têm que estar quietos.

Mas tanto a porta como a dona sofriam de outra coisa qualquer. E era essa outra coisa qualquer que as fazia, a uma gostar de se contemplar, e a outra, gostar de fotografias estranhas.

1 comentário:

Margarida Atheling disse...

Eu sofro do mesmo mal da dona da porta, de tirar fotografias com o modo noctuno e em movimento. Enfim... acho que haverá coisas mais graves! ;)

Beijinhos

E quando és tu a errar (muito)?

Tenho passado um longo período a descrer dos outros, a proteger-me de quem me faz mal, ou me quer mal, e ontem descobri que tenho sido muito...