A porta estava empenhada em eliminar de raiz os preconceitos contra as suas congéneres e não suportava que ao pé de si alguém ousasse proferir o célebre dito "estúpida como uma porta". Essa era a sua luta. E como era uma porta iluminada (o candeeiro estava mesmo ali perto), e além disso estudiosa, já lera Sócrates e ficara-lhe aquele conselho: Conhece-te a ti própria e Deus te conhecerá. Qualquer coisa assim. Por isso é que se olhava tanto ao espelho.
A dona da porta, que, como já se disse, sofria de cólicas, sofria também de alguma insensatez, coisa que ainda não se disse. Essa insensatez é que a fazia fotografar gatas em movimento com a máquina em modo de fotografia nocturna, onde se sabe que modelo e fotógrafo têm que estar quietos.
Mas tanto a porta como a dona sofriam de outra coisa qualquer. E era essa outra coisa qualquer que as fazia, a uma gostar de se contemplar, e a outra, gostar de fotografias estranhas.
1 comentário:
Eu sofro do mesmo mal da dona da porta, de tirar fotografias com o modo noctuno e em movimento. Enfim... acho que haverá coisas mais graves! ;)
Beijinhos
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