- Há quanto tempo, Antero! - disse-lhe eu.
- Sr. Quental... - corrigiu-me.
- Os meus mais sinceros pedidos de desculpa pela estouvada familiaridade. Mas, perdoe-me, sr. Antero de Quental, está muito pálido!...
- Pálido não, alvo. Diz antes "alvo". Aqui, onde para maior glória minha me puseram, sou o alvo alvo das cagadelas das pombas da cidade.
- Disse "cagadelas", Sr. Quental? Como pode descer tão baixo o ilustre senhor que escreveu aquele poema com que me ensinaram a métrica?
- Qual?
- Aquele que começa assim:
Lá, mas onde é lá? Aonde?
Espera, coração indomado.
O céu que anseias, o céu, o céu da ideia,
em vão o buscas nessa imensa esfera.
- Em vão o buscas, é verdade. Tens a certeza que fui eu que escrevi isso?
- Certeza, não. Mas parece-me. O que mais recordo é a voz do professor, e os profusos gestos separando as sílabas métricas: Lá-ma-son-dé-lá.
- Caraças, disseste "profusos"! Ao que chegámos, que tu dizes "profusos" e eu "cagadelas".
- Não se inquiete, senhor Antero. Se calhar, eu queria dizer "parafusos".
- Faltam-te alguns, sim.
(...)
6 comentários:
Ai essa imaginação criadora! Essa da conversa com o Terinho está divinal...
Já não é tão divinal, para mim, ter de escrever uma série de letras sem sentido e todas deformadas que se me apresentam a segir.
Comentador sofre!
mas olhe que o seu blog tb me apresenta as tais letrinhas...
Deixaste o Senhor aturdido, Dulce! ;)
E, de facto, está um tudo nada pálido... :)
Bjs
Ó Dulce. Plagiando Barreirinhas Cunhal, eu diria: «olhe que não, olhe que não».
Há muito que retirei dos meus blogs esse terrível procedimento.
Penso eu de que!
Chorei a rir....Coitado de Antero ja deve de ter visto melhores dias..no fim de contas todos os nossos "grandes nomes" teem como unica companhia os pombos e as cagadelas dos mesmos.
Bolas, dessa acho que me livro pois nunca irei me transformar em estatua.
Beijinhos
Ana Felpuda
Dulce, está uma delícia este diálogo. De ler e reler e de todas as vezes rir.
Beijos
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