Estou muito cansada hoje, e ainda vou trabalhar. Antes, uma meia hora de descanso, que bem mereço. Mas antes ainda, quero falar-vos disto:
Estive em Coimbra em formação profissional. De regresso, na estação de comboios, andava um garoto a vender pensos rápidos. Garoto de 10, 11 anos (talvez). Não quis comprar. Resisto, sempre. Mas este garoto comoveu-me, desnorteou-me. Pelas razões conhecidas, pelas lágrimas nos olhos grandes, no rosto maltratado. Um rosto de menino menino, de muito sol antigo e manchas de despigmentação. Que não tinha nada, que só queria vender os pensos e ir para casa, que ninguém queria comprar, que a mãe lhe batia se os não vendesse.
Que merda!
Que vontade de acreditar num mundo onde se pudesse pegar pela mão estes meninos, e levá-los para um lugar onde fossem tratados com a ternura que todos os meninos precisam e merecem. Mesmo que o garoto me estivesse a contar o conto do vigário.
Vontade de trazer comigo o garoto. De lhe oferecer um banho, e de o deixar dormir na minha cama. E de lhe dar um abraço, logo à noite, ao chegar do trabalho. Delírios, eu sei. E estas crianças já criaram defesas, já se escudam nas mentiras, já não querem abraços.
Mas eu comprei-lhe a porcaria dos pensos, e chorei, chorei depois de o ter deixado ir embora.
E a porcaria dos pensos não serve para curar esta ferida.
Não era suposto alguém (a Segurança Social, digo eu, para onde vai todos os meses 11% do meu ordenado) tomar conta destas crianças?
Eu sei que é mais complicado do que isto.
Mas é muito mais complicado do que eu posso.
Quem pode ajudar-me?
A quem posso ajudar para apaziguar esta má consciência?
Sem deixar de trabalhar, porque preciso da minha vidinha minimamente organizada, a quem posso dar tempo do meu tempo? Para ser útil e não apenas fingir que sou boa...
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
E quando és tu a errar (muito)?
Tenho passado um longo período a descrer dos outros, a proteger-me de quem me faz mal, ou me quer mal, e ontem descobri que tenho sido muito...
-
Estou aqui. Defronte de um copo que foi de vinho do porto. Branco. Fresco. Aqui a pensar se peço outro. Vim para o café da aldeia, e aqui e...
-
entre todas, a minha música preferida. E hoje é para mim. Ergam lá um copo à minha saúde, que hoje completo 44 anos de vida, e muito feliz e...
-
Uma coisa que me deixa realmente curiosa, inutilmente curiosa, aliás, é esta: quem são vocês, os que aparecem nas estatísticas do blogger e...
5 comentários:
Uma gota no oceano conta... e são necessárias tantas gotas!
A utilização de crianças na mendicidade é abominável. Tal como é o trabalho infantil. Mas as esmolas que elas recebem são normalmente para alimentar vícios e ociosidade. O que significa que, se as dermos, estamos a premiar a asneira. Mas se não as dermos, as crianças vão pagar caro. Não tenhamos dúvidas. Um dilema de difícil resolução.
Porém, reduzindo o caso ao absurdo, se ninguém der esmola, a mendicidade acaba de certeza. Porque deixa de ser rendosa. Mas talvez apareça algo pior para a substituir...
Pois é, deprofundis, é esse dilema que me deixa de mãos atadas e coração apertado.
Não sei como te ajudar...
... mas percebo esse sentimento que fica cá dentro.
Beijoca grande
Fizeste-me chorar, Dulce. És tão certeira nas palavras, tens o dom de abrir a porta do teu enorme coração através do que escreves.
E tens toda a razão, infelizmente.
Enviar um comentário